ALFREDO LEONARDO PENZ
Todo profissional carrega no seu âmago a dicotomia de ser bonzinho ou mauzinho nas atribuições que nos cabem. Em muitas situações, somos vistos pelas ações que tomamos, dentro do subjetivismo de quem nos vê, ou do nosso próprio. Vou citar aqui exemplos – meros exemplos – de algumas profissões que me vêm à cabeça. Muitos creem que o bom contador é aquele que consegue usar a lei, de forma que, ao final do ano-base, possa obter uma restituição maior do IR ao seu cliente. Tem-se a ideia de que o bom advogado é aquele que consegue abrandar ou mesmo livrar seu cliente da pena. Muitas vezes, aquele até sabe que este é culpado, que cometera o crime em questão, mas está ali a defendê-lo como inocente.
Nós, professores, somos assim também. Bons e os maus, aos olhos de quem nos vê dentro da nossa subjetividade. Já tive aluno que me puxou pelo braço, na saída de um banco, dizendo que eu fora o melhor professor que ele tivera na sua vida. Outro dia, num shopping center, encontrei um aluno que me disse haver projetado para sua vida um salário tal e que hoje estava ganhando três vezes mais que seus planos. Disse-lhe que estava contente em fazer parte da sua história, com o pouco que lhe ensinara. Ele replicou que “aquele pouco contribuiu muito na sua profissão atualmente” – meu ego se elevou e fiquei que era todo sorrisos. Antagonicamente, ao encontrar um aluno num supermercado e cumprimentá-lo, ele disse que eu fora o único professor que lhe deixara de exame em toda a faculdade: “O único”, reforçou. Um outro, ainda, me disse que perdera determinado prêmio por ter-lhe dado falta numa aula. Observação: ele realmente faltou à aula e não seria justo ter-lhe dado presença, perante os outros colegas.
A profissão que escolhi é assim: ou somos considerados bonzinhos ou malvados. Nosso bônus é quando encontramos um aluno que nos abre um sorriso de orelha a orelha e relembra dos momentos compartilhados, da cumplicidade, das apresentações de trabalhos e até das angústias. Outros só lembram do ônus: das notas baixas, dos trabalhos que lhes deram muito trabalho para a nota final. Assim é a vida: enquanto temos os de orelha a orelha, temos os de olhos profundos, de olhar sério e indiferente e lábios cerrados. Cabe a cada um de nós, dentro de cada profissão, da ética e do bom senso, exercê-la com dignidade e princípios, sempre pensando na responsabilidade que nos foi incumbida. Uns deixam de agir professor para ser bonzinhos, enquanto outros deixam de ser bonzinhos para agir professor. São os ônus e os bônus de cada profissão.
>A Notícia, 16/02/2011 - Joinville SC
Prof.Dr. Paulo Sergio de Sena
Fatea - Faculdades Integradas Teresa D'Ávila
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Coordenador Curso de Licenciatura em Biologia - biologia@fatea.br
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